Faz hoje 5 anos que acordei num sábado cheio de chuva,
o qual nas zonas altas de Stº António no Funchal assustador até mesmo aos mais
corajosos, pelo que optei por ficar em casa e nem sair para ir tomar o pequeno
almoço como num sábado normal.
Durante o decorrer da manhã tudo parecia normal
até que as noticias extra da RTP Madeira foram as primeiras a nos alertar para
o que estava a acontecer, o que parecia acabado de sair de um filme com muitos
e muitos efeitos especiais, era inacreditável que o Funchal estava a ser
destruído pela força das águas, e tenho de salientar que a RTPM foi pioneira e
muito profissional na transmissão de alertas e imagens transmitidas de forma a
alertar a população para o que estava a acontecer na nossa ilha.
Um pouco mais tarde por volta das 14 horas achei
por bem sair de casa e verificar como tudo estava nas redondezas o que me levou
a ficar boquiaberto com a sorte que tinha sido bafejado, pois tinha conseguido
saber de toda a minha família e tinha a certeza que estavam bem, o que
infelizmente muita gente levou até ao final do dia a saber. Mas regressando à
minha saída pelas redondezas da zona da Graça em Stº António, fiquei muito
chocado com o que via, desde carros a cerca de 2 metros de alto arrastado por
terras e pendurados nos muros, como um bar que costumava frequentar cheio de
gente a ver as noticias e a chorar num tom de desespero total pois alguns
estavam apenas de cuecas, devido a terem perdido literalmente tudo, desde a
casa até à roupa do corpo, isto sem falar nas inúmeras pessoas que não sabiam
dos seus familiares e que estavam totalmente em pânico apenas com o conforto
dos vizinhos e conhecidos que por ali se encontravam.
De volta a casa alertei um familiar para pegar
em alguns mantimentos e saímos para ver o que poderíamos fazer para ajudar
aqueles com quem nos cruzamos todos os dias, e que muitas vezes nem
cumprimentamos, talvez por uma questão de pressa ou mesmo de hábitos criados ao
longo dos anos, mas infelizmente era mesmo impossível chegar às zonas mais
afectadas, pois o estado dos terrenos era muito instável, o que nos levou a
voltar para trás pois mais vale não comprometer ainda mais o trabalho das
entidades oficiais no terreno, pois por vezes a melhor ajuda é não ajudar por
muito que nos custe e por muito que nos faça sentir impotentes, que nos
sentimos na altura infelizmente.
A cair da noite e após tentar contactar alguns
amigos e familiares a saber da sua situação e de como poderíamos ajudar,
lá definimos prioridades e acabamos por ir para a zona do Mercado dos
Lavradores ajudar alguns amigos que tinham ficado com os seus pertences
destruídos, sendo que nunca vou esquecer situações como ver pessoas a se
passear pelas ruas do Funchal com um ar curioso, outros de máquinas e telemóveis
na mão a tirar fotografias e até mesmo a por a sua vida em risco.
Mas neste dia tive muito orgulho em ser
Madeirense, pois era enorme o número de pessoas solidárias que ajudavam os seus
e até mesmo meros desconhecidos a tentar refazer a sua vida a partir da lama,
pois eram imensas as pessoas de pá e enxada pelas ruas a perguntar de porta em
porta quem precisava de ajuda.
Ainda hoje falo com pessoas que conheci nesses
dias e que me ficaram na memória pela sua atitude altruísta, pessoas que calçaram
as galochas e pegaram na pá para ajudar familiares, amigos, conhecidos ou mesmo
desconhecidos.
Aqui ficam algumas fotos do impacto que teve
este aluvião, sem que aponte ao desordenamento do território ou à falta de
manutenção do património natural como as florestas a montante da cidade do
Funchal, pois temos de aprender com os erros e corrigi-los, não vale a pena
estar a apontar o dedo a este e aquele pois já nada há a fazer, principalmente
aqueles que perderam amigos e familiares nesta tragédia, e a maior atitude que
podemos ter por essas pessoas é sermos um pouco mais altruístas todos os dias.
Passados estes cinco anos, continuo a pensar na sorte que tive de ninguém da minha família e amigos ter perdido a vida neste fatídico sábado. Na sorte que tive em ficar em casa a descansar mais um pouco e não sair para ir para o centro ter com os meus amigos ou levar o meu filho a brincar no parque.
Cláudio Jardim 20/02/2015
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